
SÃO JORGE A CAVALO COMBATENDO O DRAGÃO
A presente escultura, da autoria do Mestre ceramista Rafael Bordallo Pinheiro, foi realizada para a capela privativa do jardim do palácio dos condes de Avillez, a Tapada, junto ao seu palacete de habitação, próximo do castelo.
Sob a invocação de São Jorge, cujo rosto foi personificado de Jorge de Avillez de Sousa Feio, 4º conde de Avillez (1869 – 1901), foi concluída e colocada postumamente, em 1902.
O culto de São Jorge permaneceu nesta família Avillez durante quatro gerações. Por razões onomásticas e devocionais, associadas à carreira política e das armas, foi-lhes atribuído o nome próprio de Jorge.
Iconograficamente, São Jorge aparece a lutar contra um dragão, ser demoníaco, símbolo do mal.
Segundo José António Falcão, “o grupo escultórico que permanece em Santiago do Cacém constitui um unicum resultante da fusão de dois elementos complementares e solidários, em vulto redondo, a peanha e as figuras de São Jorge, do cavalo e do dragão. De estrutura aproximadamente retangular, mas distribuída em consecutivas superfícies poligonais, a base arranca de uma moldura guarnecida por um friso de godrões e possui a feição de um capitel compósito, formado por volutas revestidas de folhas de acanto que terminam em opalas. Remata o conjunto um entablamento guarnecido por uma moldura similar à da zona inferior, agora com querubins de asas abertas em V nos cantos, demarcando a superfície rústica do campo onde tem lugar o prélio. Ao longo das volutas, corre uma grinalda de rosas brancas. Os espaços intermédios das faces laterais ostentam temas autónomos: de um lado. a insígnia da Ordem de Cristo, pendente da grinalda e sobrepujada pela coroa condal; do outro, uma teoria de rosas brancas que prolonga essa mesma grinalda.
Na parte superior, ligeiramente mais alta do que a base, duas grandes diagonais pautam a composição. Uma destas linhas é orientada pela lança e marca a postura não só da cabeça e da cauda do monstro, mas também do corpo do cavaleiro e, ainda, do manto – cujas extremidades esvoaçam livremente, lembrando, pelo hibridismo da sua estrutura, meio orgânica, meio inorgânica, as asas de um dragão. A outra linha, oposta à primeira, resulta do lançamento do corpo do cavalo. Apesar da redução da escala, a peça mostra-se deveras impressionante. Realmente, a cuidada miniaturização transporta o observador para outra dimensão, conferindo-lhe um efeito de monumentalidade que o preciosismo decorativista no acabamento das formas e na pormenorização dos elementos acentua. Não menos vigoroso é o trabalho cromático, em que dominam as tonalidades frias dos verdes e dos azuis e, ainda, o castanho, quase neutro, a tender para o cálido, magnificamente amplificado pela técnica do vidrado, que joga com a oposição deliberada entre superfícies brilhantes – as prevalecentes – e outras baças, como acontece no revestimento do cavalo.
Rafael Bordallo Pinheiro recriou, com deleite estético, o episódio lendário da luta que opôs São Jorge ao dragão, desenvolvendo uma tradição cara ao imaginário oitocentista e valorizando o seu carácter fantástico, a começar pela empolgante figura do ser demoníaco. Tema igualmente grato ao ceramista, que o glosou em várias obras, traduz aqui, de maneira eloquente, a imagem das forças tenebrosas, com a estrutura hibrida em que se destacam a cauda serpentiforme, terminada num ápice à maneira de seta, as grandes patas unguladas, o corpo bojudo, repleto de espinhos cortantes no dorso, as asas pontuadas de manchas que lembram os olhos, a cabeça hedionda, em que avultam a enorme boca aberta (deixando ver as fiadas de dentes aguçados e a língua ondulante) e os olhos arregalados pela fúria. O monstro tenta envolver com a cauda o cavalo. Este reage e empina-se sobre os quatro traseiros, pondo em destaque a tensão do lance, percetível, aliás, no seu olhar aterrorizado. São Jorge, porém, está sereno. Manejando a lança com denodo, fere o dragão no ventre e fá-lo sangrar abundantemente. Prostrado, o réptil quer contra-atacar, de fauces abertas, mas o enviado de Deus, sem o mais leve indício de perturbação, domina a investida”.(1)
São Jorge, nasceu no século III, numa região atualmente da Turquia. Conhecido por Jorge da Capadócia, local onde nasceu. Filho de pais cristãos, ainda muito jovem, e órfão de pai, foi viver para a Palestina com a sua mãe.
Cedo ingressou na carreira de armas do Exército Romano, no tempo do Imperador Diocleciano. A sua brilhante carreira levou-o ao cargo de capitão do Exército. Aos 23 anos, passou a residir na Corte Imperial, em Roma, desempenhando altos cargos.
A intenção do Imperador erradicar os cristãos, através de Decreto Imperial, chocou com a fé cristã, à qual São Jorge era fiel.
Após várias tentativas para que São Jorge renegasse a sua fé cristã, posta à prova com inúmeros sofrimentos infligidos, foi ordenada a sua decapitação. Assim aconteceu a 23 de abril do ano 308. Foi sepultado na Palestina.
Padroeiro das cruzadas e venerado como mártir cristão, ficou conhecido por o santo guerreiro.
Crê-se que os Cruzados na ajuda a D. Afonso Henriques, a conquistar Lisboa e o castelo aos mouros, no século XII, terão sido os primeiros a praticar a devoção a São Jorge, razão pela qual foi atribuído o nome São Jorge, ao castelo.
No reinado de D. Afonso IV (séc. XIII – XIV) a evocação a São Jorge como "grito de batalha", tornou-se regra, em substituição a "Santiago".
D. Nuno Álvares Pereira atribuía a São Jorge a vitória portuguesa na Batalha de Aljubarrota, (conflito político e bélico entre os Reinos de Portugal e de Castela - 1383 e 1385), motivo pelo qual foi edificada uma Capela sob a invocação de São Jorge, em Leiria.
São Jorge foi ao longo dos séculos, evocado em muitos países durantes as duras batalhas, inclusive em Portugal.
Por decisão Régia de D. José I (1714 – 1777), São Jorge substitui Santiago, como padroeiro de Portugal.
Além de santo protetor e patrono em vários países, São Jorge é o patrono mundial do escutismo, celebrando-se também o Dia Mundial do Escutismo a 23 de abril, assim como a comemoração do dia de São Jorge.
Iconograficamente, São Jorge é representado com duas armas – a espada e a lança com a qual derrotou o dragão, símbolo do mal.
A armadura simbolizando a justiça, o capacete a salvação e o cinturão a verdade. O vermelho da capa simboliza o sangue derramado e o martírio pelo que passou por se manter fiel na sua fé em Deus. O cavalo branco figura a pureza e a santidade. O dragão representa o mal, que deve ser combatido com fé e firmeza.
Jorge de Avillez de Sousa Feio, 4º conde de Avillez, nasceu em Santiago do Cacém a 10 de julho de 1869. Filho de Jorge Salema de Avillez Juzarte de Sousa Tavares, 3º conde de Avillez, e de D. Maria Carolina de Sousa Feio. Teve, à semelhança de seu pai, os foros de par do Reino, por sucessão e de fidalgo cavaleiro da Casa Real.
Em 1893, contraiu matrimónio com D. Maria Amália do Cabo de Arce de Vilhena Thomas (1869 – 1898), filha do morgado da Apariça, Francisco de Arce do Cabo Mendes Thomas e de D. Maria Leonor Manuel de Vilhena Mesquita Pimentel.
O 4º conde de Avillez, conhecido pelo seu espírito aventureiro, desportista, cavaleiro hípico e condutor de velocípedes, notabilizou-se quando importou o primeiro automóvel que circulou em Portugal, um Panhard & Levassor.
Vindo de Paris, com destino a Santiago do Cacém, chega a 12 de outubro de 1895. Este automóvel fabricado em França, pela Sociedade Panhard & Levassor, com capacidade para quatro passageiros, o combustível era gasolina e a velocidade máxima de 15 km/h.
A entrada do primeiro automóvel foi um marco na história de Portugal, revolucionou os meios de transporte, encurtou distâncias, aproximou pessoas e contribuiu para o desenvolvimento económico e social.
Afetado gravemente por tuberculose, Jorge de Avillez de Sousa Feio, faleceu com 32 anos de idade, no ano de 1901, em Santiago do Cacém, onde se encontra no jazigo familiar.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
(1) FALCÃO, José António, SÃO JORGE COBATENDO O DRAGÃO, AA.VV. (2007), catálogo NO CAMINHO SOB AS ESTRELAS, SANTIAGO E A PEREGRINAÇÃO A COMPOSTELA, volume I, página 289, Edição Câmara Municipal de Santiago do Cacém e Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja.
WEBGRAFIA:
https://www.nossasagradafamilia.com.br/conteudo/imagem-de-sao-jorge
https://www.nossasagradafamilia.com.br/conteudo/historia-de-sao-jorge.html
https://www.cm-santiagocacem.pt/wp-content/uploads/26-ARQUIFOLHA-n.%C2%BA-26-2.pdf
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