
CARRETA DE BOIS
No virar do século XIX e ao longo da primeira metade do século XX, existiam no Município de Santiago do Cacém dois modelos distintos de carros de bois, o ancestral e já desaparecido carro cantador e a carreta alentejana.
A carreta, veículo rural muito antigo, de construção bastante tosca, geralmente em madeira de azinho ou sobro, constituiu um transporte muito frequente e fundamental nos campos do Alentejo, mesmo em terrenos de serra, por ser difícil de tombar.
Principal meio de transporte de trigo para as eiras, a par com o carro de parelha, mas com uma maior capacidade de carga, a carreta transportava igualmente, sacos de cereal, palha, mato, estrume, adubo, lenha, folha de milho, cortiça, abóboras, melancias e melões, batatas, maçarocas e produtos hortícolas, sendo por vezes, usada também no transporte de pessoas.
O declínio deste tipo de transporte deu-se essencialmente a partir de meio do século XX, sendo já muito raro no final da década de 80.
A carreta recentemente recuperada, atualmente em exposição no Museu do trabalho Rural, foi doada em 2006, por Francisco Maria Beja Parreira e é oriunda da Freguesia de Santa Cruz, no Município de Santiago do Cacém.
Este exemplar raro, com eixo fixo de madeira, foi utilizado até meados dos anos de 1980, existindo mesmo, duas fotografias em contexto de trabalho com o antigo proprietário, António Joaquim dos Santos, doadas a Francisco Parreira, aquando da compra da propriedade.
Transformado o Monte em casa de férias e fins-de-semana, pretendeu o seu novo proprietário preservar ao máximo este antigo meio de transporte, apesar de não dispor de um espaço coberto para o efeito.
Efetuada a doação, a carreta foi desmontada e transportada para depósito, até à sua recuperação ocorrida entre 2020/21, efetuada por um antigo mestre abegão de Abela, o Sr. Jorge António Pereira.
Descrição: O leito retangular da carreta tem 2.42 metros de comprimento por 1.02 metros de largura, apresentando uma estrutura formada por dois limões, ligados entre si por quatro taleiras, uma prítica ou vara, e duas barras de ferro no lugar dos taleirões.
A prítica avança 2.64 metros à frente do leito e prolonga-se atrás por uma rabeira de 94 centímetros de comprimento. O comprimento da prítica, que corresponde ao comprimento total da carreta é de 6 metros.
Os limões são um pouco elevados a meio do seu comprimento, tendo sido aí fixado por meio de dois parafusos, o eixo de madeira, tendo este 16 centímetros de diâmetro.
A prítica tem à frente um chavelhão, também conhecido por mata boi, onde a canga encosta, servindo também para a prisão do tamoeiro e um furo transversal, o buraco do fiador, por onde passa uma corrente de ferro (o fiador) que, ligada à canga, aguenta o carro nas descidas.
Na face superior dos limões foram abertos seis furos quadrados onde entram os fueiros, paus toscos com cerca de 1.20 metros de altura, que têm como função conter as cargas transportadas, ou os taipais laterais amovíveis, destinados ao transporte de cargas a granel.
Cada roda raiada tem 1.40 metros de diâmetro, sendo constituída por seis pinas protegidas exteriormente por um calço de ferro e ligadas à maça central por doze raios.
A maça, protegida por várias cintas em ferro, recebe o espigão do eixo de madeira. A torneja, cavilha de ferro cravada no eixo junto à face exterior da maça, impede a roda de sair.
A canga de tração dos bois foi também doada com os respetivos canzis e apeiragem em couro, ou seja, o tamoeiro, as pigarças e as brochas.
Completam a doação do conjunto os quatro taipais amovíveis de madeira, usados na contenção de cargas miúdas e o descanso da carreta (pau tosco, com uma forqueta na ponta) para apoiar a prítica, ficando assim a carreta em descanso, na posição horizontal.
José Matias
Divisão de Cultura e Desporto do Município de Santiago do Cacém
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Dezembro de 2022
